Uma moça feliz com um vestido de noiva incrível, em uma cidade no interior de São Paulo

Depoimento de Renata Gavioli ao MIMo – dezembro de 2015.
Fui convidada pela coordenadora do MIMo a escrever sobre a história do meu vestido de noiva. Li alguns excelentes registros sobre o tema e em princípio pensei não ter muito o que falar, mas ao revisitar memórias e olhar as fotografias, senti-me estimulada a contar um pouco da minha modesta história, por meio de um fato muito importante da minha vida – o meu casamento.
Moro em uma cidade pequena do interior de São Paulo chamada Indaiatuba, a qual vem prosperando significativamente na última década, mas há quinze anos atrás, quando me casei, era apenas uma cidade com um pouco mais de 120 mil habitantes. Naquela época minha mãe comprava revistas, em bancas de jornal, para pesquisar modelos de roupas. Mesmo porque internet e Google eram desconhecidos por nós.
Adquiri exemplares da revista Noivas e Brindes. Passava as tardes de sábado junto a minha mãe e minha irmã escolhendo modelos. As exigências de minha mãe eram que o vestido fosse branco com mangas e o uso do véu era imprescindível. Isso era muito comum entre as moças de família.
Com alguns modelos na cabeça fui à loja Pieri Noivas, no intuito de mandar confeccionar o meu vestido. Nessa época havia apenas duas lojas com essa finalidade na cidade. Depois de ver e experimentar muitos vestidos, a costureira e sua filha, que faziam e bordavam os vestidos da loja, conseguiram elaborar um desenho simples do que viria a ser o meu vestido de noiva, e, por sinal, bem diferente das ideias de modelo que eu tinha em mente quando cheguei à loja. E, realmente, me rendi ao modelo clássico da época, após provar vários vestidos.
Escolhemos o tecido que era trazido apenas por encomenda. Nos bordados, as pedrarias eram costuradas a mão, ou seja, uma verdadeira obra de arte que exigia horas de empenho, talento e muito trabalho. Foi confeccionado com muito capricho e amor. Ficou lindo!! Segundo a costureira, esse tipo de bordado era muito comum no Rio Grande do Sul – seu estado de origem.
Era de costume, na época, as mulheres usarem três ou até quatro saiotes para dar volume ao vestido. Fiz questão de usar apenas um para não ficar tão volumoso. Era muito comum, também, as noivas usarem luvas, mas consegui convencer minha mãe a deixar de lado esse acessório. Pensei que iria me atrapalhar toda no altar. O sapato, por tradição, era branco e novo para dar sorte.
Não fiquei com o vestido, paguei pela escolha, confecção e primeiro uso, popularmente chamado de “primeiro aluguel”. O mesmo ocorreu com a tiara e o véu.
Após recordar, senti-me lisonjeada com o convite e grata pela oportunidade de poder compartilhar algumas de minhas memórias e, de alguma forma, contribuir com informações sobre costumes e hábitos passados, por meio da minha história.
E, assim, fui incentivada por uma nova amiga a contar a história do meu vestido de noiva. Confesso que adoro conversar sobre casamentos, recepções e, principalmente, os vestidos de noivas, mas falar do próprio vestido é uma tarefa árdua, pois são muitas emoções e sentimentos envolvidos em torno de uma roupa tão especial, para uma ocasião muito importante e marcante em minha vida e acredito que seja assim na vida de muitas outras mulheres, também.
Recentemente li algumas histórias sobre o tema e adorei. Essas histórias nos ajudam a recordar e conhecer hábitos e costumes de uma época. Espero contribuir com o meu relato sobre um modelo de vestido de noiva muito utilizado na época.
Interpretações de Mariana Abbud e Márcia Merlo – MIMo – abril de 2016.
Renata Gavioli revela que não tinha acesso às informações da internet no período da preparação de seu casamento, há quinze anos atrás, portanto buscava os modelos de roupas e do seu futuro vestido de noiva em revistas compradas nas bancas de jornais, incentivada por sua mãe. Nesse sentido, podemos reiterar que as revistas eram o meio de divulgação de tendências de moda e de comportamento de consumo.
Em seu relato, Gavioli diz que passava as tardes de sábado com sua mãe e irmã pesquisando modelos para o seu vestido de noiva e, também, apresenta a negociação feita entre as exigências de sua mãe, dentro do que era a tradição para uma moça de família, e, seu gosto e estilo. Apesar da insistência de sua mãe, Renata reduziu os vários saiotes do vestido (atributo a um vestido de noiva para a época) e o uso das luvas, por exemplo.
Ao adquirirem alguns exemplares da revista Noivas e Brindes, Renata encontrou um modelo que a deixou feliz e com o sentimento de estar bela em um momento especial de sua vida. A rememoração de seu vestido de noiva a fez reviver momentos de alegria na preparação de seu casamento. As fotos revelam a felicidade dos noivos e o encantamento de Renata com o seu vestido. Peça esta que ao ser pensada, desenhada, bordada e agora relembrada, trouxe à tona um “revival” de emoções, que traduzido, em palavras e imagens, projeta sentidos de antes e para agora. Assim, Renata percebe qual é a proposta do MIMo e sente-se bem em contribuir com sua história, que é o registro de uma época, por meio das memórias particulares de um vestido.
As fotos cedidas ao Museu traz a noiva usando um vestido que, apesar de ter sido confeccionado nos anos 2000, parece agregar características e elementos da moda dos vestidos dos anos 1980 e 1990, conforme nos mostram algumas fotos de vestidos de noivas da década e que remetem ao modelo de Renata, guardada suas devidas proporções. Lady Di foi o maior ícone da época, mas Renata parece misturar o volume do vestido da princesa a exuberância do buquê, assim como a delicadeza do véu ao comprimento da grinalda. O volume da saia, a cauda, o tecido levemente estruturado, assim como o decote “ombro a ombro” (clássico porém com certa ousadia), são referências da década 1980, mas que “não saem de moda”. Da década de 1990, os bordados grossos e o véu curto na altura dos ombros parecem ter sido as inspirações para Renata.
De qualquer modo, observar os vestidos de noivas ultrapassa certas temporalidades, ou seja, o modelo representa o que a noiva e sua família querem transmitir com o ato da celebração. A tradição fixa-se muito mais nos elementos ligados ao vestido em si, como: cor, tecidos, bordados ou rendas, volume e os acessórios que revelam costumes mais arraigados, como o véu (manto que cobre a noiva), a grinalda (acessório que coroa a noiva), o buquê (simboliza o ciclo da vida, à fertilidade, o aroma das flores), as luvas, os sapatos, a troca de alianças, entre outros.
Segundo Renata, o trabalho ficou primoroso, feito com muito capricho e amor. A noiva optou pelo primeiro aluguel, incluindo os acessórios. As fotos, como portadoras de memórias, passam a ser a lembrança mais viva do vestido. Após 15 anos, Renata utiliza as redes sociais, no meio digital, para compartilhar a comemoração do aniversário de seu casamento e o MIMo a convida para contar sobre o seu vestido, nos mostrando um pouco mais de sua história que se liga a história da indumentária, da moda e do seu lugar, recriando uma memória social.
O que se sabe é que o gosto de uma noiva ultrapassa sua época, também, a dedicação ao traje e a cerimônia não medem os esforços. Ao lembrar e ao compartilhar, Renata nos brinda com seu brilho e delicadeza.
Referências imagéticas
Fotos digitalizadas do álbum de casamento de Renata Gavioli, cedidas pela depoente
Imagem dos anos 1980 retirada do site: www.inesquecivelcasamento.com.br. Acesso: 09.05.2016
Livro
BLACKMAN, Cally. 100 anos de moda. Tradução Mario Bresighello. São Paulo: Publifolha, 2011.
Sites pesquisados
http://www.fruitdelapassion.com.br/blog/2015/06/tipos-de-veu-de-noiva/ Acesso: 24.04.2016
http://www.todadecoracao.com/tag/noiva-anos-80/ Acesso: 24.04.2016